As ações são os ativos mais conhecidos da bolsa de valores, mas não são os únicos negociados no pregão. Um tipo de investimento que ganha cada vez mais espaço por lá são os ETFs (Exchange Traded Funds), ou simplesmente fundos de índices.
Esse tipo de fundo tem algumas características especiais, e por isso pode ser uma alternativa para os investidores diversificarem a carteira de aplicações com pouco custo. Eles são mais conhecidos no exterior do que no Brasil, mas aos poucos começam a ter mais liquidez e a chamar atenção dos investidores brasileiros.
O que é um ETF?
Um ETF nada mais é do que um fundo de investimentos – ou seja, representa uma espécie de condomínio de investidores que aplicam seus recursos em conjunto. Ele possui, no entanto, algumas características específicas que o distingue dos fundos tradicionais. São duas, principalmente:
1) Os ETFs sempre são atrelados a um índice de referência, também chamado de subjacente. Significa que o gestor ajusta a composição do ETF de modo que ela seja a mais parecida possível com a do indicador. Imagine um fundo de índice ligado ao Ibovespa. O papel do gestor, nesse caso, será usar os recursos dos investidores para comprar as mesmas ações incluídas na carteira do índice, e na mesma proporção.
2) As cotas dos ETFs são negociadas no pregão da bolsa de valores como se fossem ações. Seu desempenho oscila conforme a performance dos papéis contemplados pela sua carteira, e também responde à oferta e à demanda pelas cotas no mercado.
O mercado de ETFs é muito conhecido e desenvolvido no exterior. No Brasil, foi regulamentado em 2002, mas apenas mais recentemente passou a ganhar mais relevância na carteira dos investidores.
O primeiro ETF brasileiro, conhecido como PIBB (Papéis de Índice Brasil Bovespa), existe desde 2004. Ele é referenciado no IBrX-50 – índice formado pelas 50 ações mais negociadas e representativas da bolsa brasileira – e foi criado para estimular o acesso dos pequenos investidores ao mercado de ações. Hoje, é administrado pelo Itaú.
Nos últimos anos, uma série de novos ETFs foram lançados no país, referenciados em índices como Ibovespa, Índice de Governança Corporativa (IGC), Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), Índice de Dividendos (IDIV) e até S&P 500, um dos principais índices do mercado americano de ações. Também existem hoje ETFs que têm como base índices de renda fixa, como o IMA-B (que acompanha o desempenho de títulos públicos atrelados à inflação).
A cada ano, o volume de negociações com ETFs aumenta. Em 2018, a média diária foi de R$ 432 milhões. Aumentou para R$ 780 milhões em 2019 e para R$ 1,5 bilhão nos dois primeiros meses de 2020.
Tipos de ETFs
No mercado global de ETFs, há uma variedade grande de tipos diferentes de ETF. São muito conhecidos os fundos de índices de ações, e só nesse grupo já existem muitas opções: ETFs de índices amplos, segmentados, setoriais, nacionais ou internacionais. Mas há também fundos de outros tipos de índices, como ETFs de moedas, de commodities ou de papéis de renda fixa.
No mercado brasileiro, os ETFs de renda variável são os mais numerosos. Em dezembro de 2020, havia mais de 20 listados. Existem também ETFs de renda fixa, que replicam índices formados por títulos públicos com diferentes prazos médios de vencimento.
Características Técnicas do ETF
Código de negociação | XXXX11 (sendo XXXX = 04 letras maiúsculas que representam o nome do fundo e 11 = número que representa cotas de fundo) |
Cotação | Reais por cota, com 02 casas decimais |
Liquidação | Física e Financeira |
Prazo de liquidação | D+2, a partir da data de negociação |
Mercado | À vista |
Lote padrão | Mercado primário: determinado pelo emissor Mercado secundário: 1 cota |
Rentabilidade
O objetivo de um gestor de ETFs sempre é manter a carteira o mais próximo possível da composição do seu índice de referência. Por consequência, a rentabilidade de um fundo de índice bem sucedido nessa tarefa será a mesma (ou quase a mesma) apresentada pelo indicador.
Pense em um ETF referenciado no Ibovespa. Se em um determinado período o índice subir 10%, o que se espera é que o ETF apresente uma rentabilidade muito perto disso. Em contrapartida, se o Ibovespa recuar 10% no período seguinte, o mesmo deverá acontecer com o fundo de índice: sua rentabilidade também será negativa.
Podem haver pequenas variações na rentabilidade do ETF, em relação à oscilação do seu índice de referência. Isso acontece por algumas razões. A primeira é a taxa de administração. Embora seja considerada baixa, ela abocanha uma pequena parte do retorno do fundo.
A segunda diz respeito às operações em si feitas no ETF. O gestor, em certos momentos, pode ter dificuldade para replicar exatamente a composição do índice de referência, por razões variadas – seja por uma redução da liquidez dos papéis que deveria ter na carteira, seja por conta de variações abruptas do mercado. Com isso, a rentabilidade do ETF pode acabar ficando ligeiramente diferente do indicador. Em geral, no entanto, esses descolamentos são pequenos e momentâneos.
Impostos e taxas
Os custos de negociar ETFs são semelhantes aos que existem para comprar e vender ações na bolsa de valores. É preciso pagar uma taxa de corretagem para a corretora que intermediar a operação e, além disso, algumas taxas de negociação à B3 (conhecidas como emolumentos). Até aqui, seguem os mesmos custos em relação à renda variável de maneira geral.
Taxa de corretagem
Cobrada pelas corretoras de valores quando você realiza uma transação que envolve um fundo, seja de compra ou de venda. A taxa de corretagem pode ser definida por um preço fixo, uma porcentagem sobre o valor da transação ou ainda pode ser híbrida, ou seja, conter uma parte fixa e uma parte como porcentagem.
Taxa de custódia
Pode ser cobrada pelas corretoras de valores e também pela Bolsa com a finalidade de cobrir custos operacionais pela segurança dos ativos.
Taxa de emolumentos
Os emolumentos também são cobrados por operação realizada, porém a cobrança é feita pela B3 e pela CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia).
Taxa de administração
Cobrada anualmente, depende da administradora do fundo e do próprio ETF. Normalmente, o valor cobrado costuma variar entre 0,20% e 0,80% do valor do investimento.Vale ter atenção sobre este valor já que uma taxa de administração alta pode atrapalhar seus rendimentos.
Imposto de Renda
Os ETFs estão sujeitos ainda à incidência de Imposto de Renda. A alíquota é a mesma aplicada sobre o mercado de ações em geral: 15% sobre os ganhos. A diferença é que, no caso dos ETFs, não há isenção de IR para quem realiza vendas na bolsa de valores em valor até R$ 20 mil mensais. Esse é um benefício disponível apenas para quem negocia ações diretamente.
Um detalhe: embora os ETFs sejam fundos, o recolhimento do Imposto de Renda no caso dos produtos de renda variável não acontece na fonte. É responsabilidade do investidor calcular o valor do tributo devido em caso de ganhos no momento da venda das cotas e realizar o pagamento por meio de um Documento de Arrecadação da Receita Federal (DARF) até o último dia útil do mês seguinte à operação.
Já nos ETFs de renda fixa, o imposto de 15% é retido na fonte, com recolhimento pela corretora intermediadora.
Diferença entre ETFs e fundos de investimento
Uma diferença importante entre os ETFs e os fundos de investimento tradicionais está na gestão. Embora existam fundos tradicionais com gestão passiva, muitos deles têm gestão ativa. Significa que os seus gestores estão sempre procurando as melhores oportunidades de aplicação para obter retorno acima do seu índice de referência, seguindo a política de investimento estabelecida pelo seu regulamento.
Já um ETF sempre tem gestão passiva – ou seja, os gestores sempre se preocupam apenas em replicar a composição e o desempenho de um índice de referência. Farão isso mesmo que, em algum momento, acreditem que outros papéis (que não os incluídos no índice) sejam opções com melhores perspectivas de retorno. Isso porque a finalidade de um ETF é justamente oferecer aos investidores uma forma de acompanhar o retorno dos indicadores, seja ele positivo ou negativo.
Também é diferente a maneira de realizar o investimento em si. Os fundos tradicionais são comprados diretamente das prateleiras de produtos disponíveis nas corretoras de valores e dos bancos. Já os ETFs são negociados no pregão da bolsa de valores. É de lá que precisam ser adquiridos, também com a intermediação de uma corretora.
Outra diferença é a maneira de acompanhar o desempenho. As informações sobre a rentabilidade dos fundos tradicionais precisam ser fornecidas pelos seus administradores a entidades como a Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). É lá que os investidores podem consultar esses dados, com alguns poucos dias de intervalo.No caso dos ETFs, o acompanhamento do valor das cotas pode ser feito em tempo real, apenas seguindo as cotações divulgadas ao longo do dia pela B3.
ETFs x fundos indexados
Embora seja comum tratar as duas expressões como sinônimos, estamos falando de dois produtos muito diferentes.
Os fundos indexados são fundos de investimento cuja política de investimento prevê que eles devem acompanhar o comportamento de um índice do mercado (Ibovespa, IBrX, IMA-B) — mas não são negociados em bolsa.
Em geral, as taxas de administração são maiores que as taxas dos ETFs, pois a gestão destes fundos envolve um trabalho de ficar comprando e vendendo papéis para tentar acompanhar o índice. Eles possuem apenas um preço por dia, que é o valor diário da cota.
A situação fica um pouco confusa porque, nos Estados Unidos, esses fundos são mais antigos que os ETFs, e já eram conhecidos como index funds, expressão que pode ser traduzida literalmente para “fundos de índice”. Quando surgiram os ETFs, foi preciso reconhecer que ambos são fundos de índice, e passou-se a usar index mutual funds para falar dos fundos indexados, e ETFs para falar dos ETFs. Ambos são fundos de índice, mas é comum usar a expressão index funds para se referir apenas aos referenciados.
A regulamentação no Brasil, ao criar no mercado brasileiro o conceito de ETF, denominou-os “ETFs – Fundos de Índice”. Aí a confusão aumentou, pois nossa nomenclatura ficou diferente daquela que já era usada lá fora.
Os ETFs – fundos de índice são fundos referenciados em índices que possuem o diferencial de serem negociados em bolsa de valores. Que diferença isso traz? A principal diferença é que o valor do ETF acompanha o valor do índice de maneira quase automática, permitindo um custo muito inferior. Além disso, diferentemente dos fundos referenciados, eles possuem cotação em tempo real, ao longo do dia.
A aderência do ETF ao índice se dá, em grande parte, devido à possibilidade que os grandes investidores possuem de “criar ou quebrar” cotas do ETF, trocando-as pela cesta de ações correspondente. Ou seja, se o ETF começar a valer menos que a cesta de ações, surge a oportunidade de um grande investidor comprar ETFs no mercado, quebrar essas cotas de ETF, trocando-as pelas ações, e vender as ações no mercado. Por que ele faria isso? Porque é uma oportunidade de lucro sem risco: chamada de arbitragem de preços.
Essa arbitragem de preços faz com que o preço do ETF sempre fique bem perto do preço do índice, sem necessidade de um gestor ativamente comprando e vendendo ações – o mercado faz isso sozinho, com objetivo de obter pequenos ganhos sem risco.
Simplificando, lembre-se: ETFs são fundos de índice negociados em Bolsa de Valores.
Vantagens e desvantagens dos ETFs
Como todos os investimentos do mercado financeiros, os ETFs possuem as suas vantagens e também desvantagens. Cabe a você avaliar, de acordo com o seu perfil de investidor e objetivos, se esse investimento pode entrar na sua carteira. Mas, vamos ajudar com um resumo dos principais pontos a favor e contra desses ativos.
Vantagens |
Desvantagens |
Baixo custo: comprar um ETF gera menos taxas transacionais do que comprar todas as ações que ele representa; e a taxa de administração do ETF é muito mais barata que as taxas de administração de fundos de investimento tradicionais | Impostos: A tributação é a mesma dos fundos de ações e bem menos vantajosa que a tributação sobre o investimento direto em ações. O investimento direto em ações possui duas isenções das quais os fundos não partilham: (i) isenção para vendas de até R$ 20.000 por mês; e (ii) isenção de IR sobre os dividendos. Para os fundos de ações e ETFs de ações, o IR é de 15% sobre o lucro |
Praticidade: ETFs facilitam o processo de decisão e permitem comprar várias ações de uma vez só | Baixa liquidez: Alguns ETFs setoriais ainda apresentam poucos negócios |
Diversificação: permite diversificar carteiras de forma mais simples, sem ter que comprar e vender vários ativos individualmente | Complexidade: Dificuldade de compreensão do funcionamento pelo investidor |
Transparência: diferentemente dos fundos tradicionais, você sabe exatamente em que está investindo | Gestão passiva: o investidor não tem nenhum controle sobre a composição do fundo ou seu objetivo |
Como investir em ETFs
Para investir em ETFs, o primeiro passo é ter conta em uma corretora. Como a negociação das cotas ocorre na bolsa de valores, é preciso contar com a intermediação de uma das mais de 80 casas que existem no mercado.
Na hora de escolher uma delas, é importante considerar aspectos como os custos de operação, a variedade de opções de investimentos, a qualidade da plataforma de negociação e o acesso a suporte para tirar dúvidas.
Para abrir a conta, normalmente são solicitadas cópias de documentos como identidade e CPF. Em geral, eles podem ser encaminhados à corretora por via eletrônica, o que facilita o processo. Quando a conta estiver aberta, basta transferir os recursos – por meio de TED ou DOC – para começar a operar.
A escolha do ETF deve obedecer a alguns critérios. Em primeiro lugar, o investidor deve verificar se o produto está adequado ao seu próprio perfil de risco.
Se for um ETF de renda variável, por exemplo, o investidor está preparado para as oscilações que podem acontecer nas cotas? Tem disposição para manter a aplicação no longo prazo, de modo a capturar os ganhos e superar eventuais perdas momentâneas?
Se esse for o caso, é hora de escolher a alternativa mais condizente com os objetivos e os conhecimentos de cada investidor.
Como existe uma variedade de ETFs, que refletem diferentes tipos de indicadores do mercado, vale a pena dedicar algum tempo a estudar as perspectivas para cada um.
As corretoras e casas de análise costumam produzir relatórios de recomendação – de compra ou de venda – incluindo ETFs. Eles podem ser uma boa fonte de informações para os investidores que gostariam de conhecer melhor esse mercado.
ETFs listados na B3
Confira abaixo a lista com os ETF negociados na bolsa brasileira:
Código | Índice |
BBOV11 | Ibovespa |
BBSD11 | S&P Dividendos Brasil |
BOVA11 | Ibovespa |
BOVB11 | Ibovespa |
BOVV11 | Ibovespa |
BRAX11 | IBrX-100 |
DIVO11 | Índice Dividendos (IDIV) |
ECOO11 | Índice Carbono Eficiente (ICO2) |
ESGB11 | Índice S&P/B3 Brazil ESG |
FIND11 | Índice Financeiro (IFNC) |
GOVE11 | Índice de Governança Corporativa (IGCT) |
ISUS11 | Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) |
IVVB11 | S&P 500 |
MATB11 | Índice de Materiais Básicos (IMAT) |
PIBB11 | IBrX-50 |
SMAC11 | Índice Small Cap (SMLL) |
SMAL11 | Índice Small Cap (SMLL) |
SPXI11 | S&P500® Net Total Return (S&P500® TRN) |
XBOV11 | Ibovespa |
XFIX11 | Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários |
Você pode consultar todos os ETFs listados também no site da B3.
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