Investir no Exterior sem sair do Brasil: Conheça as BDRs

Ao final de 2010, as primeiras BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de companhias americanas foram negociadas na B3 — naquela época ainda era chamada de Bovespa.

Esse primeiro lote de BDRs, disponibilizado aos investidores brasileiros, continha dez empresas: Apple, Google, Bank Of America, Arcelor Mittal, Goldman Sachs, Avon, Walmart, Exxon Mobil, McDonald's e Pfizer. O que já era um avanço, principalmente devido a tributação dos investimentos no exterior.

Naquele momento, era um pequeno passo para o mercado de capitais, mas, anos mais tarde, um grande salto para os investidores pessoa física, que hoje podem negociar ações de empresas americanas, com apenas um clique no home broker.

O que são BDRs?

O BDR (Brazilian Depositary Receipt), ou em português: certificado de depósito de valores mobiliários, é um título expedido no Brasil que representa outro título — normalmente Ações — emitido por companhias listadas nas bolsas internacionais.

Para que o BDR possa existir, uma instituição depositária adquire, no exterior, Ações de uma companhia e os mantêm em conta de custódia.

Em seguida, ele cria no Brasil um programa de BDR e os registra na CVM para negociação. Dessa forma então, os BDRs são negociados na B3.

Hoje, na B3 existem duas modalidades de BDR — os patrocinados e não patrocinados, sendo que eles podem se subdividir em nível I, II e II.

BDRs patrocinados e não patrocinados

Em busca de investir em oportunidades fora do mercado brasileiro, os BDRs patrocinados e não patrocinados surgem como alternativa.

Apesar de não afetar o investidor, antes de começar a investir é interessante que você entenda os dois tipos existentes de BDRs: BDR patrocinado e BDR não patrocinado.

BDR patrocinado

É o BDR que a própria empresa estrangeira possui interesse em negociar os recibos no Brasil. Essa, então, procura instituições parceiras para realizar a emissão de BDRs na nossa bolsa. A empresa deve seguir as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e é a responsável por distribuir aos investidores as informações sobre a negociação.

BDR não patrocinado

É o BDR mais comum entre os disponíveis na B3. Esses são os que a iniciativa de lançar os certificados na bolsa não partiu da empresa de origem das ações. Assim, as instituições depositárias brasileiras são quem devem adquirir os papéis internacionais, buscando também realizar o processo de custodiar os ativos e emitir os BDRs.

Para deixarmos o assunto mais simples, vamos tratar neste artigo dos BDRs não patrocinados que pertencem ao nível I, pois estes são os que possuem maior liquidez no mercado.

O mercado de BDRs na B3

Como citei anteriormente, dez anos atrás os primeiros BDRs de empresas americanas foram negociados na B3. Todavia, no começo, a liquidez dessa classe de ativos era bastante reduzida e, de certa forma, limitada a grandes investidores, mas a história está aos poucos mudando.

Hoje temos acesso a mais de 900 BDRs listados na Bolsa de Valores, sendo que, até o final de maio de 2021, o volume transacionado foi superior a 5 bilhões de reais. Sim, um valor bem alto, mas que ainda pode aumentar. O mercado de ações à vista, por exemplo, movimenta em torno de 20 bilhões de reais por dia.


Fonte: B3.

O volume do mercado de BDRs atingiu seu recorde histórico no começo de 2022, negociando, em média, R$ 898,2 milhões por dia.

E talvez você esteja se perguntando: será que este mercado não é apenas para grandes investidores? E a resposta é não!

Num curto período de tempo, apenas 2 anos, vemos que o número de investidores cresceu muito — hoje são mais de 247 mil nesse mercado, contra menos de 3 mil em 2019. Foi um salto enorme no número de investidores e, com o IPO do Nubank em 2021, esse volume ainda deve aumentar.


Fonte: B3.

Vantagens e Desvantagens dos BDRs

Vejo que a grande vantagem de poder investir em BDRs é ter a chance de diversificar um pouco a sua carteira de investimentos, caso isso faça sentido para o seu perfil de investidor.

Aqui estamos falando sobre a possibilidade de investir nas maiores empresas do mundo, que, por sua vez, podem operar em vários países.

O segundo ponto que me atrai nesse tipo de investimento diz respeito à exposição cambial.

Você não precisa abrir uma conta em uma corretora no exterior, mandar seus dólares para lá, fazer uma compra direta na bolsa americana, para então, ter parte de seu patrimônio alocado em dólares. Para isso, basta investir em BDRs.

Vejam no exemplo abaixo como a cotação dos BDRs segue, além da movimentação das Ações no exterior, o movimento do Real frente ao Dólar.

A linha branca mostra o desempenho das Ações da Apple desde o início do ano — elas apresentam valorização de 9 por cento.

Já a linha azul mostra o desempenho do BDR atrelado a Apple, negociado na B3 sob o ticker AAPL34.

O ganho fica em torno de 43 por cento, ou seja, 34 por cento superior ao que as ações subiram no mercado americano.

Essa diferença diz respeito justamente ao valor que nossa moeda perdeu frente ao dólar em 2020.


Fonte: Bloomberg.

Como principal desvantagem, destaco a liquidez do mercado de BDRs, que ainda está crescendo e deve melhorar bastante ao longo deste ano.

Apesar de termos à disposição na B3 mais de setecentas opções de investimentos em BDRs, apenas algumas são efetivamente líquidas.

A tabela abaixo mostra as BDRs mais transacionadas na B3, durante o ano de 2021.


Fonte: B3.

Quem pode investir em BDR?

Até pouco tempo atrás, poucos investidores podiam investir em BDRs, visto que o lote padrão para negociação era de 100 unidades. Mas, logo no início de 2020, a B3 reduziu esse lote de BDR para 10 unidades, assim, facilitando a vida dos pequenos investidores.

Coloquei abaixo um print do book de ofertas da BDR da Apple para ilustrar como funciona a compra e venda de BDRs.

Notem que existem algumas ofertas de compra e venda com o novo lote padrão de 10 unidades. Nesse caso, o investidor teria que desembolsar cerca de 1.750 reais para comprar e se tornar sócio da companhia.


Até meados de 2020, o investidor deveria ser classificado como investidor qualificado perante a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para poder negociar BDRs. Mas esse pré-requisito não é mais necessário.

Por conta dessa liberação, o número de investidores em BDRs (recibos de ações listadas no exterior) na B3 disparou 1.414% de setembro de 2020 a setembro de 2021, segundo informações da B3.

A explosão ocorreu devido a nova regulamentação desse tipo de investimento, que antes era só para investidores qualificados (aqueles que possuem mais de R$ 1 milhão em aplicações ou certificações específicas) e a partir de 22 de outubro de 2020 se tornou acessível ao público geral.

Logo, o processo é bem simples e consiste apenas na assinatura de um termo de responsabilidade. Então, caso você tenha interesse em investir nos BDRs, sugiro que entre em contato com a sua corretora e verifique o procedimento para se habilitar.

Onde você se enquadra?

Não acredito que a diversificação de um portfólio de investimentos deve ter, obrigatoriamente, exposição ao mercado internacional. No entanto, sei que existe o desejo em alguns investidores de criar essa diversificação, tanto pela possibilidade de investir em negócios diferentes dos que temos à disposição aqui no Brasil, mas também pelo fato de expor parte do patrimônio a uma outra moeda.

Por isso cabe ressaltar que qualquer investimento deve ser feito de forma coerente com o perfil de risco e disponibilidade de capital de cada pessoa.

Se, no seu caso, existe a vontade de expor uma parcela do seu patrimônio a outros ativos, como ações e ao mesmo tempo, a outras economias e moedas, os investimentos em BDRs podem ser uma boa alternativa.

Atualizado em

Por: Bruno Papi

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