Banco Central eleva Selic em 1 ponto, para 5,25% ao ano

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (04/08) elevar a Selic em 1 ponto percentual, para 5,25% ao ano, em sua maior alta de juros desde 2003. Essa foi a quarta vez seguida que o comitê subiu a Selic, que chega ao seu maior nível desde outubro de 2019.

A decisão seguiu o que esperava a maior parte dos analistas consultados pela Bloomberg, que já enxergava na constante pressão inflacionária um motivo para o Banco Central elevar seu ritmo de alta de juros.

A escalada dos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica fez com que os economistas do mercado financeiro já projetem inflação de 6,79% para 2021, conforme o Relatório de Mercado Focus desta semana. Esse valor está bem acima do teto da meta de inflação, o que tem pressionado o BC a elevar os juros.

Desde o segundo semestre de 2020, os preços de commodities internacionais, como soja e milho, tem aumentado, o que impacta o custo de alimentos também no Brasil. Além disso, combustíveis e gás de cozinha têm pressionado o orçamento das famílias, assim como o custo da energia elétrica. Mais recentemente, a geada em algumas regiões do País prejudicou a produção de alimentos, com impactos nos preços ao consumidor final.

Neste cenário, restou ao BC iniciar em março deste ano o processo de alta da Selic, para que a inflação não dispare em 2022. O ano de 2021 já é considerado perdido para o cumprimento da meta.

Em seu comunicado dessa decisão, o Copom ressaltou que elevar a Selic em 1 p.p. reflete “seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023”.

“Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação”, diz o texto do BC.

“O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, completa.

A expectativa dos analistas é que a autoridade monetária seja obrigada a manter uma alta forte da taxa de juros até o fim do ano, quando, segundo a mediana das projeções compiladas pelo Broadcast, a Selic deve chegar a 7%, acima do patamar considerado neutro (em que os juros não estimulam e nem contraem a economia).

Nesse sentido, o próprio BC sinalizou em seu comunicado que esse deve ser o cenário: “Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”, diz o texto.

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Trajetória da Taxa Selic em 2021

Desde 19/02/2003 a Selic não subia 1 p.p. A taxa agora está em seu maior patamar desde outubro de 2019.


Taxa básica de juros deve subir mais

Para a próxima reunião marcada para setembro deste ano, o BC sinalizou uma nova alta de 1 ponto percentual, elevando a Selic para 6,25% ao ano.

"Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude", informou a autoridade monetária. Nesse patamar, os juros se aproximam do nível considerado “neutro”, que não estimula nem prejudica a atividade econômica. Economistas calculam que esse valor está entre 6% e 7%.

O BC, por sua vez, indicou que o cenário econômico e os riscos devem fazer com que a trajetória de alta dos juros supere a taxa neutra. Essa é uma mudança na avaliação em comparação com a última reunião, quando a autoridade monetária considerou que levar a Selic para esse patamar seria suficiente para conter a inflação.

Comunicado do Copom na íntegra

Em sua 240ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 5,25% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, a evolução da variante Delta da Covid-19 adiciona risco à recuperação da economia global. O Comitê avalia que, a despeito dos movimentos recentes nas curvas de juros, ainda há risco relevante de aumento da inflação nas economias centrais. Ainda assim, o ambiente para países emergentes segue favorável com os estímulos monetários de longa duração, os programas fiscais e a reabertura das principais economias;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, os indicadores recentes continuam mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre;
  • A inflação ao consumidor continua se revelando persistente. Os últimos indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável. Destacam-se a surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e a continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos. Além disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,8%, 3,8% e 3,25%, respectivamente; e
  • No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,15*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 6,5% para 2021, 3,5% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 7,00% a.a. neste ano, mantém-se nesse valor durante 2022 e reduz-se para 6,50% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 10,0% para 2021 e 4,6% para 2022 e 2023. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1” em dezembro de cada ano-calendário.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 5,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023. Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação. O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

Fonte: Estadão Conteúdo.
Atualizado em

Por: Bruno Papi

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