Antes de trazer o conceito desse derivativo financeiro, gostaria de ressaltar que todo investidor de Renda Fixa deveria entender o funcionamento e comportamento do Futuro de DI, porque ele é quem dá preço a praticamente toda Renda Fixa no Brasil, inclusive o Tesouro Direto.
Segundo o site da B3, o produto Futuro da Taxa DI é:
“O Contrato Futuro de DI1 tem como ativo subjacente a taxa média diária dos Depósitos Interfinanceiros (DI), calculada e divulgada pela B3, compreendida entre a data de negociação, inclusive, e a data de vencimento, exclusive, e é utilizado para proteção e gerenciamento de risco de taxa de juro de ativos/passivos referenciados em DI.
O contrato tem valor nocional de R$100.000 na data de vencimento, e o valor na data de negociação (PU) é igual ao valor de R$100.000 descontado pela taxa negociada. Como a posição é atualizada diariamente pela Taxa DI através da dinâmica de atualização do PU pelo fator de correção, o investidor que carrega a posição até o vencimento recebe ajustes diários que somados equivalerão à diferença entre a taxa de juro contratada e a realizada, sobre o montante financeiro da operação. “
Esse contrato futuro traz como vantagens:
- Ferramenta para a gestão de risco de taxa de juros.
- Possibilita a troca de ativo/passivo referenciado em taxa DI em taxa prefixada.
- Alavancagem com menor aporte de margem de garantias por conta de mecanismos de mitigação de riscos do contrato futuro, se comparado com derivativos de balcão com contraparte central.
Esses conceitos retirados do site da B3 por si só não ajudam muito o investidor a entender o Derivativo Futuro de DI, então vamos mostrar como ele funciona na prática.
Na prática, o que está sendo negociado no Futuro de DI é a trajetória do CDI, em termos anuais (a.a.), até o vencimento do respectivo contrato.
Exemplo:
No dia 30/10/2020 o contrato Futuro de DI1F23 ( vencimento em 02/01/2023) fechou o dia negociado á 5,05% a.a.
Na data do negócio (30/10/2020) o CDI dia foi apurado a 1,90% a.a., isso indica que de 30/10 até o vencimento do contrato há expectativas de altas na trajetória do CDI para o valor médio do CDI alcance os 5,05% a.a. do contrato(DI1F23).
Vamos a alguns Gráficos e Tabelas para entender melhor.
Gráfico 1: DIF23 sem projeção de alta pelo COPOM
Gráfico 2: DIF23 com projeção de altas pelo COPOM
Como já disse anteriormente, para o DI futuro com vencimento em Janeiro em 2023 (F23) ser negociado a 5,05% a.a. é porque o mercado está considerando altas na trajetória da Selic/CDI para que do dia 30/10/2020 até 02/01/2023 um ativo atrelado ao CDI remunere 5,05% em termos anuais.
Se nada ocorresse na trajetória do CDI/Selic nesse período, o derivativo Futuro de DI Jan 23 devería estar valendo 1,90% a.a., ou seja, o patamar atual (30/10/2020). Vide o Gráfico 1.
Para valer 5,05% a.a. em 30/10/2020, o contrato DI1F23 está incorporando uma provável configuração de altas na Selic/CDI a ser feita pelo COPOM, que é quem define a Taxa Básica no Brasil, nossa famosa Selic.
No gráfico 2 apresento uma provável expectativa de intervenção na Selic. Ela saindo de 1,9% para 7%, em maio de 2022.
Na Tabela abaixo demonstro as reuniões e as altas que projetei para o período (30/10/2020 a 02/01/2023). Nela apresento uma provável configuração de altas para que um ativo atrelado ao Selic/CDI remunere algo próximo dos 5,05% a.a., conforme foi negociado no contrato DI1F23.
Na data do negócio (30/10/2020) o CDI estava 1,90% a.a..
A próxima reunião é em dez/20, caso o COPOM altere a Selic nesse dia, o CDI passará a ser remunerado, em termos anuais, na nova Taxa. Na simulação abaixo, estabeleci uma alta de 10 ptb, ou seja, o CDI sobre para 2% a.a.. A partir daí ele passará a ser corrigido diariamente a 2%a.a. até a próxima reunião em jan/21. Cada ponto base (ptb) equivale a 0,01%. Exemplo: Alta de 50 ptb são +0,50% (5,00% para 5,50%).
Na primeira reunião de 2021, simulei uma alta de 25 ptb, então o CDI começará a ser corrigido a 2,25% a.a. até a próxima reunião. Isso acontecerá sucessivamente até o vencimento do contrato Futuro de DI, enquanto houver reuniões do COPOM nesse período.
No exemplo da Tabela, ocorrem diversos movimentos de alta em que ele sai de 1,90% a.a. até chegar a 7,00 %a.a. em abr/22, permanecendo nesse nível até o vencimento do contrato. Essa simulação é uma demonstração provável do comportamento do COPOM que faria com que de 30/10/2020 até jan/23 o CDI rentabilizasse algo próximo dos 5,05% a.a. (contrato futuro DI1F23). Por isso é uma taxa média, porque o CDI muda durante a vigência do contrato. A B3 define o objeto de negociação subjacente “A taxa de juro efetiva até o vencimento do contrato, definida para esse efeito pela acumulação das taxas diárias de DI no período compreendido entre a data de negociação, inclusive, e o último dia de negociação do contrato, exclusive.”
Tabela 01 com prováveis intervenções do COPOM na Selic. Simulando os Juros Futuros.
Bem, vamos avançar mais um pouco com a matemática por traz do Contrato Futuro de DI.
Ajudará a entender como o contrato futuro é negociado, por que as Taxas de Juros Futuros variam, como seu preço é calculado, os ajustes diários. Apesar de estarmos falando sobre derivativo futuro, ressalto novamente que o foco é demonstrar sua importância como o formador de preço de toda a indústria de Renda Fixa!
Como é negociado o Contrato Futuro de DI?
O contrato Futuro do CDI é negociado em Taxa para vários vencimentos e ocorre de forma eletrônica das 09h às 16h (pregão normal) e a negociação estendida começa às 16h:50 e vai até às 18h. O horário mais importante é das 16h:10 às 16h:40, quando ocorrem os leilões (call eletrônico) que definem as Taxas de Ajustes do Futuro de DI que são a referência para aquele dia e marcam as carteiras de todo mercado, bem como os preços de ativos Prefixados.
Existe a possibilidade de fazer Day Trades, há custos e Imposto de Renda envolvidos. Mais informações técnicas acesse o site da B3.
Você pode comprar ou vender a Taxa durante a negociação. A lógica é a mesma de qualquer mercado futuro, onde quem compra espera que a Taxa negociada suba e quem vende espera que a Taxa caia.
Além disso, ao contrários de outros derivativos futuros, como os contratos futuros de ações, em que somente o preço futuro importa (para verificar se o comprador ou vendedor ganhou). No DI Futuro, o comportamento da Taxa durante toda a trajetória importa, pois o objeto de negociação é taxa de juros (que é acumulada por taxa de juros composta).
Como é calculado o Preço do Contrato Futuro de DI para definição dos ajustes diários?
Vamos a um pouco de matemática que será importante para entender como é ficar COMPRADO e VENDIDO no mercado Futuro de DI e entender toda dinâmica dos ajustes diários que é onde se estabelece os ganhos e perdas nesse derivativo de juros.
As negociações no mercado futuro de juros são feitas em Taxas e o Preço é calculado da seguinte forma:
Os ajustes diários do DI Futuro são calculados assim:
PAt = Preço de Ajuste em t
PO = Preço da Operação
M = (R$1,00) valor em reais de cada ponto de PU, estabelecido pela B3.
N = número de contratos
PAt -1 = Preço de Ajuste em t-1
i = Taxa do DI
n = dias úteis até o vencimento
FCt = fator de correção que refere-se a Taxa do CDI de d-1 para um dia.
DI t-1 = Taxa CDI em ano do dia útil anterior.
Nada como bons exemplos práticos para compreender melhor!
Antes de tudo, vamos ao primeiro detalhe que geralmente causa confusão para quem está iniciando os estudos do mercado de juros futuros.
Negocia-se em Taxa, mas os ajustes são em Preço. Entendam:
Compra de Taxa = Venda de Preço (PU)
Expectativa: Preço caia, ou seja Taxa suba.
Venda de Taxa = Compra de Preço (PU)
Expectativa: Preço suba, ou seja Taxa caia.
Vale aquela relação inversa entre Preço e Taxa (Preço sobe Taxa cai e vice-versa), como disse é a mesma sistemática da precificação de ativos Prefixados.
Exemplo 1: Comprei 10 Contratos DI1F23 a 5,01% em 30/10/2011 e Vendi no mesmo dia a 5,09%
Preço Unitário (PU) Compra = 89.967,26
PU = 100.000 / (1 + 5,01/100) ^ (545/252)
Preço Unitário (PU) Venda = 89.819,21
PU = 100.000 / (1 + 5,09/100) ^ (545/252)
Como ocorreu no mesmo dia (Day Trade) é só apurar a diferença nos preços.
Comprei Taxa a 5,01% (Vendi PU = 89.967,26 ) depois Vendi Taxa a 5,09% (Comprei PU = 89.819,21). Ganho de R$ 148,05 por contrato. Foram 10, então R$ 1.480,50.
Exemplo 2: Vendi 20 Contratos DI1F23 a 5,00% em 29/10/2020 e Comprei os mesmos 20 no dia 30/10/2020 a 5,10%.
Preço Unitário (PU) Venda = 89.968,37
PU = 100.000 / (1 + 5,00/100) ^ (546/252)
Preço Unitário (PU) Compra = 89.800,72
PU = 100.000 / (1 + 5,10/100) ^ (545/252)
Bem agora como carreguei a operação mais que um dia, deveremos usar o Fator de Correção para apurar o ajuste diário ( ganho ou perda).
Vou mostrar como ocorre na prática.
No dia 29/10/2020 a minha entrada (venda da taxa a 5%) será comparada com a Taxa de Ajuste do dia, e assim será apurado o Ajuste Diário de 29/10:
29/10: Taxa de Ajuste (4,97) e Preço de Ajuste ( 90.024,09). A B3 divulga os Preços de Ajuste, basta calcular a Taxa rearranjando a fórmula de cálculo de preço.
Como no dia 29/10 eu entrei Vendendo Taxa (5,00), logo estou Comprado em PU (89.968,37)
Ajuste de 29/10 = Preço de Ajuste – Preço da Compra (Vendido em Taxa) = 90.024,09 – 89.968,37 = +55,72
Ajuste positivo, pois a Taxa de Ajuste (4,97) foi menor que a Taxa que eu entrei Vendendo (5,00).
Bom, agora vamos para mais um conceito que no princípio, dificulta o entendimento sobre o derivativo de juros futuros.
O tal do Preço Ajustado (não confunda com Preço de Ajuste)
Agora vamos calcular o ajuste do dia 30/10, data em que eu encerrei a operação. Eu comprei (Vendi Taxa) o F23 no preço de 89.968,37 no dia 29/10 e já recebi um ajuste de +55,72.Então, já que eu recebi uma parte do resultado da operação, o meu preço agora será o Preço de Ajuste anterior corrigido pelo CDI do dia anterior, que tem o nome de Preço Ajustado.
No dia 30/10, em que eu encerrei minha posição vendida, Eu comprei na Taxa de 5,10%. Além disso tem o ajuste sobre a posição carregada.
Preço Unitário (PU) Compra = 89.800,72
PU = 100.000 / (1 + 5,10/100) ^ (545/252)
Valor do Ajuste em 30/10: Preço Ajustado – Preço da Venda (Compra de Taxa).
Preço Ajustado de 30/10 = Preço de Ajuste de 29/10 x FC (lá encima tem a fórmula)
Preço Ajustado de 30/10 = 90.024,09 x (1+1,9/100)^(1/252)
Preço Ajustado de 30/10 = 90.024,09 x 1,000074692…
Preço Ajustado de 30/10 = 90.030,81
Valor do Ajuste em 30/10: Preço da Venda (Compra de Taxa) – Preço Ajustado .
Valor do Ajuste em 30/10: 89.800,72 – 90.030,81 = -230,09
Resultado da Operação: Ajuste de 29/10 + Ajuste de 30/10 + Ajuste de 30/10 (saída da operação)
Resultado da Operação: +55,72 – 230,09 = -174,37 * 10 = 1.743,70
Também podemos apurar conforme a Tabela 02 abaixo:
Talvez, você se pergunte, por que se comparar o Preço de entrada (Venda de Taxa ou seja, Compra de PU) com o de Saída (Compra de Taxa ou seja, Venda de PU) não dá o mesmo valor?
Viram mais acima a sistemática do Preço de Ajuste para o Preço Ajustado (Corrigido)?
Mais a frente discutiremos a razão disso, quando falarmos de Posição Comprada X Posição Vendida no mercado futuro de juros.
Exemplo 3: Vendi 10 Contratos DI1F23 a 4,63% em 15/10/2020 e Comprei os mesmos 10 no dia 30/10/2020 a 5,05%. Carreguei a posição por 11 dias úteis (exclusive/inclusive).
Preço Unitário (PU) Venda = 90.496,44 (Comprado em PU)
PU = 100.000 / (1 + 4,63/100) ^ (556/252)
Preço Unitário (PU) Compra = 89.893,19
(Venda em PU)
PU = 100.000 / (1 + 5,05/100) ^ (545/252)
Vou colocar uma Tabela 03 com os valores dos Ajustes Diários e o resultado da operação:
Reparem que assim como o Exemplo 2 a operação foi perdedora. O resultado foi negativo em 11.273,40 ( 10 X -1,127,34), pois entramos Vendendo Taxa (Comprando PU) a 4,63 e saímos a 5,05. Taxa subiu 42 ptb no período, então perdemos dinheiro.
Bem, com esses exemplos eu queria começar a mostrar a dinâmica de cálculo do Ajuste Diário do DI Futuro.
Mais a frente veremos que é possível sintetizar uma Posição Prefixada no Mercado de Juros Futuros do DI, como podemos fazer uma aposta contrária ao Prefixado.
Todas as fórmulas e detalhes mais técnicos podem ser consultados na Minuta do Contrato Futuro de DI da B3.
O que é estar VENDIDO em Taxa no mercado Futuro de DI?
Quando se Vende a Taxa, espera-se que as Taxas caiam durante o tempo em que está posicionado.
Mesmo pensamento da compra de um ativo Prefixado? Sim, isso mesmo!
Então quando eu Vendo a Taxa (comprar Preço Unitário) no mercado futuro do DI eu estou sintetizando uma posição Prefixada com esse derivativo? Exato!
Agora vamos explicar na prática, como é de praxe por aqui.
Como disse lá no começo do Artigo, o contrato futuro de DI negocia a taxa de juro efetiva acumulada pelo DI até o vencimento do contrato. Logo quem Venda a Taxa ( compra o contrato em preço) e leva até o vencimento receberá os ajustes diários correspondentes a Taxa de entrada da operação (% a.a.).
Agora vou mostrar um quadro comparativo de uma posição Vendida no Juros Futuros e uma compra de LTN (Tesouro Prefixado) de prazos e taxas iguais.
Vamos a Tabela 04 abaixo:
Nessa Tabela apresento do lado direito (cinza mais escuro) o acompanhamento de uma posição no Tesouro Prefixado Jan/23 (LTN). No lado esquerdo uma Posição Vendida em Taxa no Futuro de DI F23 que possui o vencimento em 02/01/2023( Parte cinza clara). As últimas colunas mostram o investimento em 100% do CDI.
Percebam que para compararmos as duas posições eu precisei de estabelecer alguns critérios:
- Mesmo vencimento;
- Os preços são calculados na mesma Taxa ( no mercado real existe um Spread (+ ou -) da LTN sobre o DI que varia também ao longo do tempo, Prefixado Travado, ainda escreverei sobre isso);
- Em termos de equivalência financeira 1 contrato de DI equivale a 100 LTNs (Tesouro Prefixado). Só observar os valores descontados nas fórmulas de ambos que verá que no Tesouro Prefixado se traz a valor presente R$ 1.000,00 e no Futuro de Juros do DI são R$ 100.000,00;
- No contrato Futuro de DI não existe desembolso financeiro como há ao adquirir um ativo Prefixado. Logo esse recurso não desembolsado no derivativo Futuro ficará aplicado. Na nossa tabela está aplicado a 100% CDI que é a principal referência para o mercado financeiro. Coluna Investimentos 100% CDI + Ajustes Diários;
- No período analisado (31/10/19 a 02/01/20) existem 3 dias sem pregão na Bolsa (20/11/2019, 24/12/20219 e 31/12/2019), logo, sem negócio no mercado futuro, apesar de haver a rentabilização da carteira. Nos dias úteis seguintes eu valorizei a carteira com 2 CDIs para ajustar a carteira do Derivativo corretamente (onde está em azul claro).
O Quadro abaixo mostra o Resultado 01 da comparação:
Observem que uma Compra de LTN equivale a uma posição vendida no mercado Futuro de DI. Os resultados financeiros são equivalentes. Na prática os investidores institucionais investem em ambos os mercados (Ativo Real e o Derivativo Futuro). A escolha dependerá de outros fatores que por ora não são relevantes a esse artigo.
Levou até o vencimento recebeu a mesma Taxa de compra 4,76% a.a..
Reparem uma coisa interessante.
Como pode o Prefixado, mesmo com a redução de taxa no período ( -0,36 ptb), ter rendido o mesmo que a posição a 100% do CDI?
Ué, num tem aquela frase rasa que diz na Renda Fixa que se o cenário é de queda nas taxas de juros o Prefixado é preferível ao Pós em CDI?
Falácia da Renda Fixa.
A explicação é a seguinte. Lá em 31/10/2019 quando o ativo foi adquirido a 4,76% a.a., essa Taxa de compra já contemplava esse cenário de redução de juros (-50 ptb na reunião de dezembro 2019) que se confirmou no período, sendo assim tanto o Prefixado quanto o Pós em CDI teriam que render o mesmo, que foi o que aconteceu.
Mais abaixo teremos outros exemplos e entenderão melhor que não basta olhar se o cenário é de queda nas taxas de juros. O que importa é o SEU cenário em relação ao que o mercado negocia no momento para a trajetória do CDI/Selic no período da sua operação.
Agora iremos falar sobre estar Comprado em Juros, mas também verá a posição Vendida para compararmos e tirarmos ótimas conclusões que os ajudarão a entender a mal compreendida Renda Fixa.
O que é estar COMPRADO em Taxa no mercado Futuro de DI?
Quando se compra a Taxa, espera-se que as Taxas aumentem durante o tempo em que está posicionado.
Se estar Vendido em Taxa imita uma posição Prefixada, estar comprado é uma posição contrária. Mas não quer dizer que estamos pós em CDI, na verdade estamos apostando contra o Pré. Seria shortear os Juros Futuros, vender o Preço do contrato, esperando que ele caia.
Vamos a mais uma Tabela 05:
Os critérios são basicamente iguais a Tabela anterior. Agora inclui além da LTN (Tesouro Prefixado) e da posição Vendida (azul clara) também observamos o andamento da posição Comprada (verde clara) do Juros Futuros do DI. Quando o vendido recebe o ajuste diário o comprado é que está pagando e vice-versa. Essa é a dinâmica natural de qualquer mercado futuro.
Podemos ir direto aos Resultados 02:
A LTN novamente tem o resultado equivalente a Posição Vendida em Juros no mercado Futuro de DI.
Agora o Prefixado superou o CDI no período porque a projeção na entrada da operação em 02/01/2020 a 4,31 colocava somente 50 pontos de cortes na Selic/CDI, no entanto no período os cortes totalizaram -225 ptbs.
Para entender melhor vamos as tabelas abaixo:
Tabela 06: Projeção do COPOM em 02/01/2020 para DI1N20
Tabela 07: Comportamento efetivo do COPOM
Na Tabela 06 encontra-se uma provável Projeção para o comportamento do DI no período baseado nas intervenções do COPOM na Taxa Selic. Veja que no dia 02/01/2020 o mercado colocava como provável 50 pontos base de corte para Selic até o contrato Futuro de DI com vencimento de 01/07/2020.
Reforçando: em 02/01/2020 o Futuro de DI N20 (01/07/2020) era negociado a 4,31% a.a.. Então de 02/01/20 até 01/07/20 o mercado colocava o CDI a 4,31% em termos anuais. O CDI em 02/01 era 4,40% a.a., logo alguns cortes na Selic deveriam acontecer para ele valer menos no Futuro (01/07/2020). Um cenário provável de cortes é o simulado na Tabela 06 com dois cortes de 25 nas últimas duas reuniões o que levaria o CDI em %a.a. para próximo dos 4,31% a.a. negociado em 02/01/20.
No entanto, o que ocorreu no período foi um corte de -225 ptb, bem mais que o projetado em 02/01/2020, logo a Taxa do contrato N20 (01/07/2020) fechou mais que o que era esperado em 02/01/2020, pois o corte foi maior.
Se ocorresse um movimento próximo do que estava projetado, dois cortes de 25 nas últimas duas reuniões, o ativo Prefixado (Vendido em Taxa no N20) renderia próximo ao CDI do período.
Reparem que a simulação, com os cortes efetivos da Tabela 07, projetava o CDI a 3,48% a.a. e o CDI efetivo do período foi de 3,60% a.a., o que demonstra a boa acurácia da planilha de projeção de Curvas no site Renda Fixa Prática.
Agora vamos voltar na Tabela 05 que compara os Vendidos com Comprados para entendermos o resultado da posição Comprada.
O resultado da posição Comprada foi de 1,41% no período o que em termos anuais dão 2,92% a.a.. Resultado menor do que a posição Vendida (Prefixada) que foi de 4,29% a.a. e menor também que o CDI: 3,60% a.a.. A situação é compreensível pois no período a Taxa de juros fechou mais do que era projetada no início da operação (02/01/2020), logo a posição Prefixada (Vendida em Taxa no DI) prevalece nesses cenários de quedas nas taxas de juros. Vamos explicar mais.
Agora vamos discutir o que levaria alguém a Comprar Taxa e Vender Taxa nesse dia.
O mercado colocava como um provável cenário dois cortes de 25 ptb em 02/01/2020, conforme a Tabela 06 mais acima. CDI 4,31% a.a..
Compra de Taxa DI:
Expectativa de cortes MENORES (OU ATÉ MESMO ALTA NOS JUROS) do que o mercado colocava no momento da operação.
Suas expectativas de Cenários:
- Exemplo 1: -25 na última reunião. 4,36% a.a..
- Exemplo 2: não haver nenhum corte. 4,40% a.a..
- Exemplo 3: ocorrerem duas altas de 50 ptb nas duas últimas reuniões. 4,65% a.a..
Tabela 08: Comprado em Taxa: Exemplo 1
Tabela 09: Comprado em Taxa: Exemplo 2
Tabela 10: Comprado em Taxa: Exemplo 3
Vendido em Taxa DI:
Expectativa de cortes MAIORES do que o mercado colocava no momento da operação.
Suas expectativas de Cenários:
- Exemplo 1: -25 na penúltima e -50 na última reunião. 4,23% a.a..
- Exemplo 2: três cortes de 25 na três últimas reuniões. 4,13% a.a..
- Exemplo 3: quatro cortes de 50 ptb. 3,40% a.a..
Tabela 11: Vendido em Taxa: Exemplo 1
Tabela 12: Vendido em Taxa: Exemplo 2
Tabela 13: Vendido em Taxa: Exemplo 3
Vistos alguns prováveis cenários para entendermos as cabeças dos Comprados e Vendidos. Vamos agora comparar os Resultados 02 mais acima, destacando os retornos em termos anuais:
Reparem abaixo que a diferença entre o retorno do Vendido e o CDI, como a rentabilidade do Comprado e o CDI tem praticamente a mesma diferença: 0,68% a.a.
O que isso indica?
Na briga entre os que acreditavam em cortes maiores (Vendidos em Taxa) e os que criam em cortes menores (Comprados em Taxa) que o mercado, venceu os Vendidos em Taxa e quem pagou a conta foram os Comprados em Taxa.
Os Vendidos receberam dos Comprados ajustes que em termos de Taxa contabilizaram 0,69% a.a..
Por que as Taxas dos Juros Futuros aumentam ou diminuem?
O principal definidor dos movimentos das Curvas de Juros é o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil). A postura do Comitê na condução da política monetária é o principal insumo para definição das Taxas pelo mercado.
O Comitê se reúne aproximadamente a cada 45 dias para definir a Taxa básica de juros da economia – a Taxa Selic.
Segundo o BCB: “A taxa Selic é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. Ela influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.”
Então se é o COPOM quem define a Taxa Básica da Economia, logo ele quem modifica e define os Juros no Brasil.
Esteja de olho na atuação do COPOM se deseja acompanhar o mercado de Renda Fixa.
Quanto mais curto o contrato de juros futuros do DI mais influência tem o COPOM nos movimentos das Taxas.
Bem, os Juros sofrem grande influência do COPOM mas não somente, outras variáveis também exercem influência nas Curvas de Juros. Tais como:
- Tudo que afetar os Juros nos EUA
- Juros internacionais
- Dólar (câmbio)
- Fluxo de investimentos estrangeiros
- Conjuntura econômica interna e externa
- Política fiscal daqui e de fora
- Geopolítica
- Disputas Comerciais
- China
- Euro
- Guerras
- Petróleo
- Commodities
Enfim… tudo que impacta a Renda Variável também tem forte influência em títulos de Renda Fixa, principalmente os de longo prazo.
Quanto maior o vencimento do título, mais essas variáveis listadas têm influência e menos o COPOM.
Quem são os principais participantes do Mercado Futuro de DI?
O mercado de Juros Futuros no Brasil tem três grandes investidores: Bancos, Estrangeiros e Institucionais (Fundos de Investimentos e Pensão).
Como podemos verificar no site da B3 a participação em Outubro de 2020:
O derivativo Futuro de Juros é muito concentrado e institucionalizado, então é um ambiente para profissionais (bem eu acho né).
Abaixo um Gráfico 03 com histórico para ilustrar mais sobre a participação no DI Futuro.
Abaixo da linha pontilhada estão localizados os COMPRADOS em Taxa e acima da marcação zero estão localizados os VENDIDOS em Taxa.
Percebam que os Bancos mantêm uma posição histórica COMPRADA em Taxa, pois assim eles se protegem contra altas nas Taxa de Juros. Bancos geralmente fazem empréstimos com Taxas Prefixadas e precisam se proteger contra os aumentos durante a vigência dos empréstimos. Existem outras questões técnicas que por ora não são o escopo deste artigo.
Os Institucionais, que são investidores de longo prazo, geralmente atuam fazendo posições VENDIDAS para sintetizar uma posição Prefixada.
Os Estrangeiros não têm posição definida e estão sempre em busca de oportunidades nas Curvas de Juros brasileiras.
Os Bancos de um lado e os Estrangeiros e Institucionais do outro. Esse é o retrato do final de outubro de 2020. Os três concentram praticamente todo o mercado de Juros Futuros do DI.
Como ganhar dinheiro com Futuro de DI?
Assim como qualquer outro mercado futuro da B3 (Ibovespa, moedas, commodities, etc) pode-se operar no contrato Futuro de DI através de estratégias de DayTrade, Swing Trade, Grafismos, Livro de Ofertas, etc.
O tamanho do lote é um tanto impeditivo para pessoas físicas. O lote mínimo são 5 contratos e o tamanho depende do vencimento, mas já saiba que fica na casa dos cinco dígitos.
Exemplo: DI1F23 (vence em 02/01/2023) tem o preço de ajuste em 30/10/2020: 89.893,19.
Lote mínimo são 5 x 89.893,19 = 449.465,95. É um valor razoável para pessoas físicas.
A esperança é que a B3 crie o mini contrato de DI Futuro.
O que eu acho mais relevante para todo investidor é o fato do Mercado Futuro de DI ser o precificador de toda renda fixa, como o Tesouro Direto por exemplo.
Então, antes de escolher o ativo de Renda Fixa: Tesouro Direto, Debênture, CRA, LCI, CDB, etc; deve-se analisar o indexador (Prefixado ou IPCA ou Selic/CDI) que este ativo está referendado. Muito mais importante que o ativo propriamente dito, é o caminho que este ativo irá percorrer, e para escolhê-lo, haverá necessidade de consultar as Taxas no mercado Futuro de Juros, onde você encontrará as projeções para esses trajetos (Prefixado ou IPCA ou Selic/CDI).
Conclusão: Por que é importante entender o Futuro de DI?
A Renda Fixa tem sua remuneração toda baseada em Juros (Nominais e Reais) e se todo mercado de Juros é referenciado no derivativo futuro de juros do DI, logo não há como aprender e/ou investir em Renda Fixa sem compreender o Futuro de DI.
A resposta é simples assim mesmo, não há o que dizer além. Se quer aprender Renda Fixa, entenda o DI Futuro da B3.
Qualquer que seja o caminho que o ativo de Renda Fixa venha a percorrer: CDI, Selic, Prefixado e IPCA suas taxas serão referendadas no derivativo Futuro de Juros DI1, o Futuro de Taxa Média de Depósitos Interfinanceiros de Um Dia da B3.
Fonte: B3, Renda Fixa na Prática, APP Renda Fixa e Banco Central do Brasil.
Por: Bruno Papi